Sallar Isha - Foto Dr Yusuf Adamu

Sallar Isha - Foto Dr Yusuf Adamu

domingo, 18 de julho de 2010

A Expulsão da Península Ibérica


Com a expulsão da Península Ibérica de Mouros e Judeus se estabeleceram as vários países da África, como Marrocos, Argélia, Tunísia, Mali e outros. Essa dispersão formou diversas comunidades que deixaram suas marcas até os nossos dias,comunidades mencionadas nos manuscritos do Mali, encontrados pela Família Kati cujo alguns relatados foram mencionados no Livro Los Otros Españoles de Ismael Diadié Haidara e Manuel .Pimentel Siles (de Sevilla).Também
outros relatos antigos como os escritos por Tarik Al Fettash, Ibn Kaldoun,Ibn Battuta, Bubu Hama etc.E estudos mais recentes realizados por Roberto Llorens Reig sobre El Sharq Al Andalus
A partir deste histórico traçamos a conexão entre Mouros, Judeus e Negros cujo cenário principal é a partir do Marrocos, que foi a porta de entrada principal de Granadinos,
Valencianos, Sefaraditas e Negros, que foram expulsos da Espanha e Portugal.
Alguns pesquisadores espanhóis falam que cerca de 300.000 Mouriscos foram expulsos da Espanha. Segundo Roberto Llorens Reig existem registros nos Arquivos Municipais de Alcoi o Patriarca de Valência que atestam a presença de negros africanos das etnias Mandinga, Peulhs de Macina ambos do Mali bem como Igbos, Calabares da Nigéria e Omon ou Ornon vindos de El Mina em Gana.
Com a expulsão dos Mouros de Qustantaniya (atual Cocentaina),os descendentes destes negros africanos fizeram parte dos mais de 11.000 Mouriscos que no dia 21 de Outubro de 1609 saíram de Cocentaina e embarcaram no porto de Denia (Al Dani ) e de Moraira.
Anteriormente a saída destes em direção a África, Djuder Pachá (Diego de Guevara) espanhol convertido ao Islã,reuniu um grande exército com 4000 Mouriscos,500 Europeus,1500 lanceiros Mouros e 1000 soldados auxiliares e 8000 camelos se preparavam para guerra.de Tonbidi.Nesta época Alcácer Quibir era cidade com grande números de Mouriscos e prisioneiros capturados na Batalha,entre esses 1500 espanhóis.
Djuder Pachá foi o 1º Alcaide de Tombuctu e,depois dele outros de Andaluzia se revezaram.Surge a partir desse episódio o governo denominado “Arma “ que deu origem ao povo “Arma” descendentes dos Mouriscos espanhóis e que ainda falam o idioma espanhol.O governo “Arma” pagava tributo anual ao Sultão de Marrakesh,pois havia a crença que os “Armas” eram descendentes de marroquinos,apesar da forte presença Mourisca que já mencionamos.
A presença de Valencianos e Granadinos era muito grande no Marrocos, Mali, Argélia,
Tunísia, Líbia, Niger, Nigéria, Benin etc. e, disseminou em muitos casamentos.
A presença de um grande exército composto de Granadinos, Europeus, Cristãos Novos, 1500 Cavaleiros Árabes e 1000 auxiliares cameleiros, que falavam Castellano e Valenciano.
Outro fator marcante para a presença de nomes espanhóis no Sahel, foi a Peregrinação a Meca,organizada em 1495 por Askia Mohamed,acompanhado por seu sobrinho Alfa Mahmoud Kati,onde participaram milhares de peregrinos.Parte dos peregrinos,cansados da viagem decidiram abandonar a caravana e, se estabeleceram em ambas margens do Rio Niger entre o Benin e a Nigéria.O período de viagem era cerca de 2 anos,seguindo o mesmo itinerário que levou Kanko Moussa em 1323 a Meca.
Essa presença maciça de Mouriscos espanhóis, Cristãos Novos ( Mouros) e Cristãos Novos( Judeus) e outros,geraram uma genealogia no Maghreb e no Sahel; genealogia esta representada hoje em 20.000 famílias descendentes dos “Armas” Mouriscos
espanhóis e,outros tantas descendentes de Cristãos Novos e Judeus Sefaraditas, que se estendem da República do Mali até a Nigéria. Famílias estas conectadas ao Brasil pelo advento da escravidão, fugas e migrações voluntárias. O controle exercido pelos “Armas” sobre comércio transaariano está demonstrado pelo descobrimento em Gao de Estelas (Placa de Pedra) Funerárias esculpidas na Espanha.
Quanto a conexão de Judeus e Negros no Marrocos podemos citar o seguinte texto:
“No sul do Marrocos em Mogador notadamente, no ínicio do século, alguns Judeus possuíam escravos negros, quase exclusivamente mulheres, levando nomes de M`Barka ou Ghalya, geralmente oferecidas pelo Said aos seus amigos e correlacionados íntimos.
Adotavam o modo de vida e as práticas religiosas das famílias no meio das quais viviam e das quais passavam a ser membros da família inteiramente, exercendo influência sobre as crianças; Ao seu falecimento punham-se frequentemente problemas a respeito do seu lugar de sepultamento e algumas ente elas se convertiam ao judaísmo oficialmente”.
(Deux Mille ans de vie juive au Maroc – Haim Zafrani pág.124)
No Brasil alguns nomes próprios Mouros são refletidos onomasticamente nos milhares de:Altair (Al Thair),Cid (Said),Alcides (Al Said ),Almir (Al Amir ),Alcir (Al Sirr),Nilza (Al Nisa),Alzira (Al Zirat ou Al Jazirat ),Nair (Al Na`ir),Adail,Armando (Ahmad),
Amador (Amadou),Márcia/Mércia (Múrcia-Mursiyah).
Sobrenomes como Albuquerque, Alcântara, Almeida, Benac, Fará, Lockman (Luckman) Marroque, Massa, Mena, Moro, Sadoc, Suhet, Suhett, também são encontrados no Brasil e no Sahel.
A diversidade cultural e racial colonizou o Brasil, onde podemos ver no seguinte texto:
“Devemos reparar que o português colonizador e povoador não possuíam unidade étnica e cultural. Não por acaso, a Península Ibérica sofreu sucessivas passagens dos Fenícios,Romanos,Visigodos,Vândalos,Suevos,Alamos e Árabes,povos que fizeram amálgama com a primitiva população de Ligúrios,Celtas e Iberos.Por isso considerando as regiões de onde saíram – Entre Douro e Minho,Trás os Montes,Beira,Estremadura,
Alentejo e Algarves - os portugueses apresentavam tipos físicos distintos – alguns bem morenos, outros brancos; alguns altos, outros de estatura baixa ou mediana e diversidade. cultural”
(História da Bahia - Luís Henrique Dias Tavares, pág.43).
No Brasil o estado de Sergipe cuja primeira toponímia era “Sergipe Del Rey”em reverência ao Rei Felipe II da Espanha,a influência Mourisca se reflete na Festa de Mouros (Chegança),na arquitetura,nas cidades com nomes espanhóis como Quitale,Oiteiro,Patiola,Poxica,Queiroz entre outras,também o falar dos sergipanos,contudo este não é o único estado onde de fato há influência Mourisca,mas talvez o de maior influência dos Mouriscos espanhóis,por isso a mencionamos.
É inegável que Mouros Negros e Judeus muitas vezes associados aos Índios, tiveram grande influência na formação do povo brasileiro. Mas a genealogia Mourisca praticamente não é pesquisada ainda que com o advento da pesquisa do DNA, muitos brasileiros estão se surpreendendo quando vêem que seus Haplotipos são do Sahel e Maghreb.
Não por apologia ou proselitismo, mas sim no sentido de estimular aqueles que se enquadram no tema deste nosso trabalho e porque não a tantos outros de diferentes origens que compõem este imenso Brasil, a fazerem suas pesquisas genealógicas, sem medo ou vergonha da origem de seus antepassados. Todos os povos formadores da identidade brasileira têm o seu valor, ainda que uns se achem superiores a outros.

Um comentário:

  1. Estou lendo muito sobre os mouros e cristão novos e convencido que esses povos foram determinantes para formação do sertanejo nordestino.

    ResponderExcluir